Por: Ruhama Rafaella Galdino Ferreira e Lauro Cézar Montefalco de Lira Santos.
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
Você já ouviu falar em Formações Ferríferas Bandadas, também chamadas de BIFs (Banded Iron Formations)? Essas rochas são como cápsulas do tempo que guardam registros preciosos de como era a Terra há bilhões de anos. Mas o que as torna tão especiais? As BIFs são rochas sedimentares formadas por uma alternância de camadas: uma rica em minerais de ferro, como hematita e magnetita, e outra rica em sílica, geralmente na forma de quartzo (James, 1954; Figura 1). Esse visual de bandas repetidas é tão marcante que acabou virando seu próprio nome.

Figura 1. BIF com bandamento retilíneo e contatos paralelos bem marcados, destacando a
alternância típica entre camadas ferruginosas e silicáticas. Fonte: Autores (2025).
Como elas surgiram?
Tudo se deu início nos oceanos primitivos. Naquela época, o ferro estava dissolvido na água. Quando o oxigênio passou a aparecer em maiores quantidades, graças à atividade de microrganismos fotossintetizantes, esse ferro reagiu e se depositou no fundo marinho,
formando as bandas que vemos hoje (Bekker et al., 2010; Figura 2). Esse processo está diretamente ligado ao Grande Evento de Oxigenação, há cerca de 2,4 bilhões de anos, quando o planeta deu um salto rumo a se tornar habitável.

Figura 2. A liberação de oxigênio como subproduto da fotossíntese levou à oxidação em
larga escala do Fe 2+ dissolvido, resultando na precipitação de óxidos de ferro e,
consequentemente, na formação das BIFs. Fonte: Autores (2025).
Por que elas são tão importantes?
As BIFs têm um valor duplo. Para a ciência, funcionam como um verdadeiro “livro geológico”, registrando as mudanças da atmosfera e dos oceanos ao longo do tempo e revelando pistas sobre a origem da vida. Para a economia, são fundamentais: representam uma das maiores fontes de minério de ferro do planeta, base essencial da produção de aço e, portanto, do nosso dia a dia moderno.
Um registro vivo da história da Terra
Cada faixa de ferro e sílica preservada nessas rochas é como uma página que conta parte da história do planeta: da Terra primitiva sem oxigênio até a transformação em um ambiente rico neste elemento vital. Estudá-las é, de certa forma, ler o diário geológico da
Terra e entender como o mundo em que vivemos se tornou possível.
Fontes:
Bekker, A.; Slack, J. F.; Planavsky, N.; Krape, B; Hofmann, A. Iron formation: the sedimentary product of a complex interplay among mantle, tectonic, oceanic, and biospheric processes. Economic Geology, v. 105, n. 3, p. 467-508, 2010.
James, H. L. Sedimentary Facies of Iron-Formations. Economic Geology, v. 49, n. 3, p. 235-293, 1954.